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“Da viela para a China”: Anelo representa o Brasil em parceria com a Juilliard, escola de elite da música mundial

Da Redação

Cidades 04/04/25

No ano em que completa 25 anos de atuação com aulas de música na periferia de Campinas (SP), o Anelo inicia uma parceria inédita com a Juilliard School, conservatório musical de 120 anos de história, fundado em Nova York e considerado o mais influente do mundo no segmento. Em uma conquista costurada com ajuda de apoiadores do Brasil e do exterior, representantes do instituto criado e enraizado no distrito campineiro do Campo Grande irão embarcar para a China, onde participarão de vivências, performances e conversas com músicos da unidade da Juilliard na Ásia - a única da escola fora dos EUA.  Além do intercâmbio, os músicos brasileiros farão ainda uma apresentação pública no famoso Dusk Dawn Club em Pequim, com apoio da Embaixada do Brasil na China. 

 O embarque do fundador do Anelo, Luccas Soares, do professor Lucas Bohn, que representarão o instituto, e do também professor Levi Macedo, que fará a captação de imagens da viagem, será em 6 de abril. Eles seguirão de São Paulo até Tianjin, uma das maiores cidades da China, onde fica a filial da escola norte-americana. Nessa cidade, estão marcadas vivências (na Juilliard e em outras escolas) e duas performances para alunos e funcionários, sendo uma delas em uma academia de música de Pequim. Ao longo do processo de viabilização da visita, a Embaixada do Brasil foi procurada para apoio e surgiu ainda a possibilidade de uma apresentação pública, também em Pequim. No total, os músicos ficarão 12 dias na China, com retorno marcado para o dia 18.

 Para Soares, a conquista dessa parceria pode ser classificada como “surreal”, levando “a viela” até a China, em referência à fundação do Anelo em um pequeno espaço na viela em que vivia, no bairro Jardim Florence. “Era uma parceria improvável, mas que só prova o poder que a música tem de conectar as pessoas do mundo.”

 Pela parceria, o instituto brasileiro terá contato com a estrutura física e didática de uma escola da elite da música - voltada para formação clássica - e em contrapartida levará a experiência de dialogar de forma mais próxima com as comunidades. A intenção é que alunos brasileiros e chineses participem de intercâmbios entre as duas instituições. Hoje, o principal intercâmbio dos alunos de Tianjin, para completar a formação em nível superior e voltar para ensinar novos estudantes, é com a Juilliard de Nova York. “Nossa ideia na visita é apresentar a eles um pouco sobre o samba, o contexto social em que o gênero surgiu e usar exemplos mais conhecidos no exterior, como Tom Jobim. Falaremos um pouco sobre como ele, com sua formação clássica, incorporou elementos da nossa música popular em canções como Wave, Garota de Ipanema”, revela Soares. 

 Conforme Luccas Bohn, para dialogar com alunos e a comunidade em geral da China de forma mais acessível, uma professora chinesa que atua no Anelo tem ajudado na tradução e adaptação de discursos. Ele ressalta a qualidade técnica e de vanguarda da Juilliard na China, que traz a expectativa de que, de lá, saia a próxima geração de elite da música clássica. “Queremos aprender como promovem as formações de musicalização, os caminhos escolhidos, pois acreditamos no potencial de nossos alunos e queremos agregar mais conhecimento para o desenvolvimento deles.” 

 Mobilização 

 Segundo Luccas Soares, a busca de uma parceria com a Juilliard teve um primeiro capítulo em 2018, quando ele tinha uma viagem marcada para Nova York e aproveitou para conhecer a escola. Sem avanço em uma possível parceria, o projeto ficou adormecido por um tempo, até ser retomado por intermédio de um apoiador.  “No final do ano passado, conheci o Stanley Ting, descendente de chineses que mora em Nova York e sobrinho de um dos apoiadores mais antigos do Anelo (John Sieh, morador de Campinas e apoiador de projetos sociais). Comentei sobre nosso desejo de parceria e perguntei se poderia ajudar. Por coincidência, ele afirmou que tinha um amigo que era conselheiro da Juilliard na Ásia, e que tentaria construir essa ponte”, conta. 

 Profissional do mercado financeiro, Stanley contextualiza que a Juilliard é uma das instituições mais rigorosas dos EUA, onde poucos alunos que ingressam acabam “passando na peneira” até a diplomação. Por ser uma escola de elite, muitos dos músicos que “ficaram pelo caminho” no conservatório migram para áreas como o mercado financeiro, sendo um deles esse amigo que está na China e que auxiliou no contato. “Me impressionou muito a seriedade e longevidade do trabalho do Anelo, e vi neles essa vontade de conhecer mais, de ter acesso à didática adotada pela Juilliard. Já no caso da Juilliard, eu esperava alguma dificuldade, mas foi tudo muito fácil, demonstraram muito interesse, o que me surpreendeu. Entendi que o Anelo pode suprir uma demanda deles, passando a experiência de como se comunicar melhor com as comunidades. Essa é uma meta da escola na China, ter uma metodologia para levar música e formação à população mais carente. Como instituição de elite, eles sentem essa dificuldade.”

 Viabilização do sonho

O professor Lucas Bohn revela que, para avançar numa parceria oficial, a Juilliard pediu informações do Anelo e sobre que tipo de colaboração pretendia promover, além de pedir um levantamento dos custos envolvidos.  A partir de então, o próprio Stanley atuou de forma direta em uma mobilização para captação dos recursos necessários, a maior parte com pessoas físicas, mas também com a empresa chinesa Chen HSong, que tem representação no Brasil e, pela contribuição, recebeu uma apresentação do Anelo. 

Segundo Stanley, a viagem atual é a primeira fase de um projeto que precisará de mais recursos para viabilizar as etapas seguintes: levar outros professores para a China e promover o intercâmbio de alunos entre os dois países. 

“Há muitas empresas chinesas atuando no Brasil e a parte da cultura é muito forte para eles. Por isso procuramos a Embaixada do Brasil, que pode ajudar na divulgação e apoio a projetos culturais, e ela foi muito receptiva. Há ainda o fato de que este biênio 2025-2026 celebra o Ano Cultural Brasil-China. Recentemente tivemos a presença do presidente da China, Xi Jinping, em Brasília com o presidente Lula, com objetivo de reforçar os laços entre os países, algo que tem muito peso na hora de tentarmos apoio.” 

Nesse contexto, foi viabilizada inclusive uma apresentação pública em Pequim, com divulgação da Embaixada e possível presença do embaixador brasileiro, Marcos Bezerra Abbott Galvão, o que reforçará a divulgação dessa parceria na China. “Dá um frio na barriga, mas vamos agora tentar consolidar uma parceria com essa renomada instituição, em mais um acontecimento marcante desses nossos 25 anos”, diz Soares. 

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