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Da Redação
Uma das crendices populares mais difundidas no Brasil é a de que agosto é o mês do cachorro louco. Apesar de ser algo sem muita explicação científica, essa ideia se propaga ano após ano; mas, afinal, de onde vem essa história?
Segundo o veterinário Francis Flosi, essa lenda começou porque o mês de agosto é aquele em que as cadelas mais entram no cio, deixando os machos eufóricos. “Por conta disso, principalmente entre os cães de rua, há um intenso coral de uivos e rituais de acasalamento, o que gera disputas e muita briga, consequentemente mordeduras, pois nas ruas, cadelas no cio arrastam grandes matilhas e favorecerem a contaminação pelo vírus da raiva”, explica Flosi.
Ao contrário do que se pensa, não são os cães os maiores portadores da doença. “Na verdade, são os morcegos os mais contaminados, mas são os gatos e cachorros que mais transmitem ao homem, devido ao convívio urbano e rural”, aponta o veterinário.
Também conhecida, impropriamente, como hidrofobia, a raiva é uma doença infecciosa que afeta os mamíferos causada pelo vírus da raiva que se instala e multiplica primeiro nos nervos periféricos e depois no sistema nervoso central e dali para as glândulas salivares, de onde se multiplica e propaga. Por ocorrer em animais e também afetar o ser humano, é considerada uma zoonose.
A transmissão dá-se do animal infectado para o sadio através do contato da saliva por mordedura, lambida em feridas abertas, mucosas ou arranhões. Mesmo sendo controlada nos animais domésticos em várias partes do mundo, a raiva demanda atenção em razão dos animais silvestres. “Ela apresenta dois ciclos de transmissão: urbano e silvestre, sendo o urbano mais passível de controle, por se dispor de medidas eficientes de prevenção”, diz o especialista.
Na saúde pública gera grande despesa para seu controle e vigilância, mesmo nos locais onde é considerada erradicada ou sob controle, já que é uma doença fatal em todos os casos que evoluem para a manifestação dos sintomas. Sua incidência é global, salvo em algumas áreas específicas em que é considerado erradicado, como a Antártida, Japão, Reino Unido, e outras ilhas.
Vacine o seu pet!
Independentemente da época do ano, o ideal é deixar seus animais sempre com a vacinação em dia. “Você pode procurar uma clínica veterinária perto de sua casa e ver as melhores recomendações veterinárias para seus pets. Afinal, ninguém quer perdê-los por descuido nem colocar a própria vida em risco”, destaca Flosi.
Para cães e gatos, a vacinação deve ser realizada de 12 em 12 meses, por isso os donos de animais domésticos devem estar atentos à carteira de vacinação do animal. Já para os profissionais com risco de exposição ao vírus (médicos-veterinários e estudantes da medicina veterinária, funcionários de parques e reservas de animais, técnicos de laboratórios específicos, entre outros), o esquema de vacinação pré-exposição é indicado, sendo recomendado três doses da Vacina Antirrábica Humana (VARH) e sorologia 14 dias após a terceira dose.
“No Brasil e no mundo, os cães ainda são considerados responsáveis por mais de 90% da exposição e da morte em seres humanos. Por isso, a vacinação canina é uma das formas mais eficientes de prevenção da doença”, explica Flosi.
Fatores externos
Segundo Flosi, os fatores externos também podem controlar os ciclos reprodutivos. O fotoperíodo (duração da exposição à luz dentro de um dia) pode influenciar algumas espécies domésticas, como gatas, cabras, éguas e ovelhas.
O resultado é que esses animais possuem um período anual no qual são positivamente afetadas pelo aumento de luz e apresentam maior atividade ovariana. “As cadelas, por exemplo, entram no cio a cada 6 meses. Portanto, se tivermos muitas delas entrando no cio no início do ano, obviamente, nesse período de agosto também haverá maior incidência”, diz o veterinário.
Exatamente por isso que agosto foi escolhido como o mês de campanha nacional de vacinação contra a raiva. Gravem isto: “É uma doença grave que atinge os animais e os seres humanos.”
Sintomas
Segundo Flosi, os sinais indicativos de que o animal possa estar infectado variam conforme a espécie. Os mais comuns são: dificuldade para engolir, salivação abundante, mudança de comportamento, mudança de hábitos alimentares e paralisia de patas traseiras. Nos cães, o latido torna-se diferente do normal, parecendo um “uivo rouco”. Já os morcegos podem ser encontrados durante o dia, em hora e locais não habituais.
Os primeiros sintomas costumam aparecer em até 45 dias após o contágio e podem se manifestar através de confusão mental, alucinações, convulsões, salivação excessiva, agressividade e desorientação. Nos cães e gatos, a eliminação do vírus pela saliva ocorre de dois a cinco dias antes do aparecimento dos sintomas e continua durante toda a evolução da doença.
Em humanos, a raiva manifesta-se inicialmente com mal-estar, aumento de temperatura, falta de apetite, dor de cabeça, enjoos, dor de garganta, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia. “Pode haver dor, queimação, formigamento e hipersensibilidade no local da mordedura. Conforme a infecção vai progredindo, podem ocorrer febre, delírios, espasmos musculares involuntários e/ou convulsões. Observa-se ainda sensibilidade a luzes e sons, medo de corrente de ar e de água, além de dificuldade para engolir”, destaca Flosi.
Tratamento
A raiva não tem cura estabelecida, sendo a única forma de prevenção por meio da vacinação. O tratamento é profilático, conforme Protocolos do Ministério da Saúde. Dependendo do tipo, do local da agressão e do animal agressor haverá a necessidade de administração da vacina e do soro antirrábico.
“A demora em iniciar a profilaxia e a não uso do soro antirrábico humano são falhas frequentes na profilaxia antirrábica humana. Portanto, é necessário que o atendimento seja rápido para ser eficaz”, diz o veterinário.
Para evitar que o vírus penetre no organismo, a pessoa agredida deve tomar as seguintes medidas:
1 - Lavar imediatamente o ferimento com água e sabão;
2 - Procurar uma Unidade de Saúde local para orientações e medidas profiláticas pós-exposição conforme cada caso;
3 - No caso de agressão por animais domésticos, não matar o animal e sim deixá-lo em observação por 10 dias, recebendo água e comida normalmente em local seguro. Se o animal adoecer, morrer, desaparecer ou mudar de comportamento, comunicar o fato imediatamente ao Serviço de Saúde local.
Por isso, a melhor maneira de evitar a raiva em pets e humanos é a prevenção. Além da vacinação dos animais domésticos, as secretarias de saúde dos municípios e os centros de Zoonoses devem ser acionados para capturar os animais de rua que podem portar a doença. Nas cidades, a presença de morcegos deve ser notificada aos centros de zoonoses.
A vacinação é a única forma de evitar que animais domésticos contraiam raiva e transmitam a doença para humanos. Não tem contraindicações. Os tutores dos cães e gatos devem levar para vacinar os animais a partir dos três meses de vida, inclusive fêmeas prenhas, evitar vacinar animais doentes.